A realidade amazônica

Nos últimos 150 anos, a população brasileira destruiu grande parte da floresta de Araucárias, a Mata Atlântica, a mata costeira (que é também parte da Atlântica), a fauna do agreste no Nordeste e, presentemente, estamos acabando com o Cerrado. Somos um país devastado. Os remanescentes no Pantanal se sustentam apenas porque este bioma se mostra economicamente inexplorável em boa parte do ciclo anual de chuvas. A maior parte da Floresta Amazônica no Pará, Acre e Rondônia está destruída ou fragmentada. Essa região, o leste e o sul do Estado do Amazonas, forma o arco do desmatamento, uma fronteira de destruição da floresta, assim denominada pelos órgãos de inteligência e fiscalização, e que ameaça severamente o remanescente da Floresta nos estados do Amazonas e de Rondônia. Além dessas ameaças a oeste do Pará, o estado do Amapá encontra-se cercado e pressionado pela devastação já produzida no Pará. Caso as medidas necessárias à preservação e ao desenvolvimento sustentável da Região Norte não sejam assumidas pelo povo brasileiro, as ações humanas no arco do desmatamento poderá, em poucas décadas, devastar toda a região ao sul do rio Solimões e do Amazonas.

Pode-se argumentar que os países ricos também devastaram boa parte (em alguns casos quase toda) de seus biomas originais. Isso é verdade. Mas aconteceu em um período em que não havia conhecimento sobre a importância da preservação. Os primeiros parques nacionais e estaduais aparecerem nos EUA no século XIX. Entretanto, deve-se entender duas coisas. Primeiro, eles devastaram, mas criaram riquezas e eliminaram a miséria e grande parte da pobreza em seus territórios. E, dois, não precisamos cometer os mesmos erros que os outros. Podemos ser inteligentes e nos tornar uma nação rica sem percorrer os mesmos caminhos errados. Escolher apenas os que mostraram sucesso. Infelizmente, não é o que aconteceu e ainda acontece. Estamos muito mais próximos de países como Madagascar, cujo povo devastou o seu rico bioma original e ainda permanece na miséria.

Todos dizem que nossa nação possui uma Natureza exuberante. Isso não é mais verdade. A exuberância em terra firme foi praticamente extinta nos últimos 150 anos. Tanto no que se refere às espécies vegetais quanto à fauna silvestre. Restam-nos apenas a exuberância geológica (tais como a Serra do Cipó, a Serra Gaúcha, a Chapada dos Veadeiros dos Veadeiros e outros), o bioma amazônico do AM, RR e AP, a foz do Iguaçu, o Jalapão e parte do Pantanal. É muito pouco, para uma extensão territorial de mais de 8 milhões de km² . Mesmo a exuberância marítima costeira (que não é muito rica para fins de pesca) corre riscos. Ainda assim, muitas pessoas insistem em afirmar que esta destruição foi necessária. Que ela gerou riquezas. Não há dúvidas que alguma riqueza foi gerada, mas não fomos inteligentes o suficiente para saber como aproveitar delas e, pior, não foi tanta riqueza assim. O que gera riqueza é o valor agregado, e isso não sabemos como fazer. A realidade é ainda pior, pois ao devastarmos a Natureza sem controle e sem planejamento, perdemos oportunidades. Não nos referimos apenas às oportunidades conhecidas e que não podem mais ser recuperadas, mas também àquelas que não conhecemos e que jamais saberemos quais são, se devastarmos tudo, como fizemos até agora. É como quando se perde uma amizade. Não é o passado o que mais importa, mas o que se deixa de viver no futuro. E finalmente, temos de considerar o fator humano. Se existem pessoas que pouco se importam com a Natureza, ou mesmo a odeiam, outros a amam, e a respeitam. E isso tem de ser considerado nas variáveis econômicas. Sem o valor humano, a economia não gera o progresso civilizatório, gera apenas a riqueza predatória, tanto para a Sociedade quanto para a Natureza, no presente e no futuro.

A degradação da Floresta Amazônica se dá em três frentes: extrativismo de madeira/agropecuária, biopirataria e garimpo. No primeiro caso, um mateiro conhecedor de madeiras de alto valor econômico penetra na floresta virgem, marca a região e as árvores de interesse ao comprador ilegal. Depois o madeireiro entra na picada e corta toda a madeira de valor econômico, sem critérios técnicos e sem cuidados com a preservação. Ao contrário, destroem o máximo que puderem. Em seguida, a vegetação em pé restante é cortada e vendida para fabricação de carvão ou para usos menores, sem impacto econômico. A clareira se forma, e uma fronteira agropecuária (principalmente pecuária) é então gerada (as terras exauridas da região Sudeste são vendidas) e o gado é instalado. Com isso, a floresta é renderizada: bolsões de desmatamento avançam e quando a clareira é aberta, já não há mais nada que se possa fazer. O AC, o PA e RO foram desmatados assim. Portanto, a demanda pela madeira tecnicamente nobre (e por isso, comercialmente valiosa) é a fonte de toda a destruição. E, de onde vem essa demanda? De nós, o povo brasileiro. Existe também a demanda para outros países, mas nós somos os maiores consumidores. E, fazemos isso para usos corriqueiros, de pouco valor agregado, como em telhados, vigas de construção civil, pontes, casas, móveis não sofisticados. Nós, o povo brasileiro, destruímos a Floresta Amazônica. Assim como os consumidores de cocaína alimentam o tráfico, nós alimentamos o corte ilegal e não sustentável de madeiras de nossa grande floresta. Muitas pessoas acham que as populações do AM e do AP são os responsáveis pela preservação da floresta. Ora, isso está longe da verdade. Eles não se sentem responsáveis e nem o são. Eles querem ter uma vida decente, com acesso aos bens materiais e imateriais a que todos os brasileiros também almejam. A região Norte possui baixo IDH, um baixo índice de saneamento básico e, com razão, eles desejam viver com qualidade. Portanto, o povo brasileiro é o verdadeiro responsável pela preservação. Se continuarmos a comprar madeira não certificada (só para fazer um telhado ou um lindo móvel), acabaremos em breve com toda floresta localizadas no sul do Estado do Amazonas (toda a região ao sul dos rios Solimões e Amazonas).

Deve-se também atentar para a necessidade de estudos científicos, técnicos e estratégicos que permitam a exploração sustentável do remanescente da Amazônia Brasileira. Isso tem de ser um projeto de Estado, algo que toda a Nação deve exigir dos governos, das universidades e institutos de pesquisa e dos políticos. E, mesmo que consigamos montar uma estratégia técnica e economicamente sustentável, deve-se ficar atento para que os recursos fiscais advindos da exploração da Amazônia não se percam nos caixas dos governos estaduais e se transformem em aumento de salários, gastos inúteis com mobiliário caro, pagamentos de vantagens, carros, etc. Esses eventuais recursos deverão ser utilizados de forma inteligente e responsável com políticas de educação e de infraestrutura que garantam o desenvolvimento econômico com criatividade e valor agregado para as gerações futuras.

Somos também estúpidos em dois outros aspectos. O garimpo gera degradações terríveis aos rios, aos peixes e as populações que vivem da pesca ou consomem água desses rios e não gera riqueza ao país. É tudo ilegal, alimenta a prostituição, o vício em bebidas alcoólicas e a miséria social. A biopirataria nos impede de realizar pesquisas científicas de ponta em áreas como fármacos e novos materiais e alimenta o avanço do desmatamento na região ao norte do rio Negro. Perdemos a oportunidade de fornecer produtos derivados do extrativismo e de alto valor comercial. Essa é a realidade. A fiscalização da floresta, no maior estado, o Amazonas, é risível: 15 técnicos estaduais e 27 federais para 1.571.00 km²!

Essa é a nossa realidade, essa é a inteligência que o nosso povo consegue aplicar no trato com nossa floresta. Uma ríspida, inútil e estúpida estratégia exploratória, que copia os tempos coloniais e não levará ao progresso em tempo algum. Além disso, as grandes e maravilhosas árvores (as rainhas da floresta) possuem uma raiz pivotante, necessária para a estabilização mecânica da árvore. As raízes de nutrição são superficiais. O solo vivo da floresta virgem possui uma profundidade de poucas dezenas de centímetros. Em seguida, ocorre o latossolo, sem vida e inútil, pronto para desertificar a região. Sem a floresta não há a evapotranspiração e sem ela o regime de chuvas de todo o Centro-Oeste, Sudeste e parte do Sul do país estará comprometido. Como em Madagascar e como ocorreu com os Maias, ficaremos sem a fértil estação chuvosa que alimenta nossa orgulhosa produção agrícola e pagaremos caro pela nossa ignorância e pela nossa estúpida noção de conforto momentâneo e da alienação quanto à importância de nossa maravilhosa floresta.

Conclusão

Conforme comentamos na aba inicial deste site, nosso objetivo é mostrar como a Amazônia é importante para o Brasil e por que ela deve ser preservada em grande escala. Ela não pertence apenas à nossa geração. Tanto quanto nossa, ela é também das gerações futuras. E, no futuro, teremos conhecimento e tecnologias que tornarão a ocupação e a exploração econômica da Amazônia mais sustentável e capaz de gerar mais riquezas.

Além disso, defendemos o direito da Natureza existir por si, sem ser necessariamente um recurso à disposição da espécie humana. Os animais e as plantas merecem viver também, livres e seguindo o ritmo da evolução das espécies em nosso planeta. Eles não são nossos escravos, são nossos companheiros de viagem, nos séculos e milênios da maravilhosa jornada da vida, que as condições especiais existentes na Terra permitem que seja sustentada. Quando o ser humano respeita as outras espécies vivas ele se torna mais humano, mais capaz de compaixão para com toda forma de vida, com todo o Universo. É isso o que efetivamente nos diferencia como espécie inteligente. E é isso o que nos torna mais capazes de nos entendermos, como humanos, entre nós mesmos. De sermos mais sensíveis aos Direitos Humanos, ao respeito à mulher, às crianças, aos idosos, àqueles que possuem qualquer tipo de limitação em suas funções psicológicas e fisiológicas e à diversidade cultural e de gênero. O amor à Natureza nos torna mais humanos e mais capazes de enxergar o futuro com a perspectiva da paz e da fraternidade.

Referências bibliográficas

1. http://www.infoescola.com/mitologia/a-lenda-das-amazonas/

2. https://super.abril.com.br/historia/amazonas-lenda-ou-realidade/

3. Fonte Mapa Mundi – Biomas Terrestres:http://biomas-geografia.blogspot.com.br/2010/10/entendento-os-biomas.html

4. Portal Brasil. Rios e bacias do Brasil formam uma das maiores redes

fluviais do mundo. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/meio-ambiente/2009/10/rios-e-bacias-do-brasil-formam-uma-das-maiores-redes-fluviais-do-mundo>. Acesso em: 27 set 2017.

5. Floresta Amazônica. Floresta Amazônica. Disponível em: <http://floresta-amazonica.info/>. Acesso em: 27 set 2017.

6. Ministério do Meio Ambiente. Amazônia. Disponível em:
<http://www.mma.gov.br/biomas/amazônia>. Acesso em: 27 set. 2017.

7. https://www.algosobre.com.br/geografia/os-climas-e-os-ecossistemas-terrestres.html

8. https://www.vix.com/pt/ciencia/543997/rios-voadores-ha-um-volume-enorme-de-agua-sobre-nossas-cabecas-de-onde-vem

9. http://www.scielo.br/pdf/aa/v28n2/1809-4392-aa-28-2-0101.pdf

10. https://daac.ornl.gov/LBA/lbaconferencia/amazonia_global_change/10_Caracteristicas_Nobre.pdf

11. http://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/questoes_ambientais/biodiversidade/

12. https://www.ibflorestas.org.br/bioma-amazonico.html (Instituto Brasileiro de
Florestas)

13. http://www.arvoresbrasil.com.br/?pg=reflorestamento_sequestro

14. https://www.google.com.br/amp/www.infoescola.com/biologia/ecossistema/amp/

15. https://www.ibflorestas.org.br/bioma-amazonico.html

16. bhttp://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/questoes_ambientais/biomas/bioma_amazonia/

17. https://www.significados.com.br/perene/

18.http://www.infoescola.com/biomas/floresta-ombrofila/

19. http://climanalise.cptec.inpe.br/~rclimanl/boletim/cliesp10a/fish.html

20. Ministério do Meio Ambiente

21. http://riosvoadores.com.br/o-projeto/fenomeno-dos-rios-voadores/

22. http://brasildasaguas.com.br/projetos/rios-voadores-2007-2013/

23. http://revistapesquisa.fapesp.br/2009/04/01/um-rio-que-flui-pelo-ar/
http://amazonia.org.br/2012/07/aumenta-extra%c3%a7%c3%a3o-de-produtos-naturais-no-amazonas/“

Madeira legal e ilegal “http://www.ambiente.sp.gov.br/madeiralegal/madeira-legal-vs-madeira-ilegal/”
http://www.abc.med.br/p/sinais.-sintomas-e-doencas/3514/intoxicacao+por+mercurio+causas+sinais+e+sintomas+diagnostico+tratamento+prevencao.htm

https://bibocaambiental.blogspot.com.br/2012/05/o-que-e-garimpo.html
https://www.uol/noticias/especiais/garimpo-ilegal-na-amazonia.htm#imagem-3
http://www.brasil.gov.br/economia-e-emprego/2012/04/ouro
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11685.htm
http://www.abc.med.br/p/sinais.-sintomas-e-doencas/351414/intoxicacao+por+mercurio+causas+sinais+e+sintomas+
diagnostico+tratamento+prevencao.htm

file:///C:/Users/D%C3%A9bora/Downloads/Cartilha_PLG.pdf
http://www.dnpm-pe.gov.br/Legisla/Guia/Guia_1.htm
https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/496300/000961769.pdf
http://portal.rebia.org.br/noticias/ecologia-humana/6795-mercurio-utilizado-no-garimpo-causa-contaminacao-no-solo-e-em-pessoas

http://www.mundovestibular.com.br/articles/9458/1/Bacia-Amazonica/Paacutegina1.html
https://www.todamateria.com.br/bacia-amazonica/

FREITAS, Eduardo de. "Bacia Amazônica "; Brasil Escola. Disponível em
<http://brasilescola.uol.com.br/brasil/bacia-amazonica.htm>. Acesso em 03 de
outubro de 2017.

http://www2.ana.gov.br/Paginas/portais/bacias/amazonica.aspx

https://brasil.elpais.com/brasil/2017/06/14/economia/1497430161_506854.html
https://oglobo.globo.com/sociedade/sustentabilidade/construcao-de-hidreletrica-na-amazonia-provocou-extincao-de-animais-16630344#ixzz52HxnOSAGstest
https://www.google.com.br/amp/m.folha.uol.com.br/amp/ambiente/2017/09/1918750-expedicao-flagra-mudancas-ambientais-apos-construcao-de-belo-monte.shtml